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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Faces

Queridos e queridas,

Voltei! No melhor estilo Exterminador do Futuro, I'm back. Na verdade, só volta quem vai, e eu não fui a lugar nenhum, continuo dando voltas em mim mesma. Quem me conhece, sabe que estou absolutamente envolvida no Itinerantes, e em todas as ações da Liga dos Direitos Humanos. Tenho visto menos filmes do que eu gostaria, o que não justifica minha ausência nesse espaço pelo qual tenho o maior carinho.
Sinto falta de escrever aqui diariamente, como fiz por uns meses. Então, como sou radical, parei de escrever. E, por ser radical, voltei a escrever, só que agora decidida a visitar o blog quando for possível, como qualquer pessoa saudável faria. Eu vou tentar, até que novo ímpeto radical tome conta de mim again.
No feriado de Páscoa, fiquei com vontade de ir ao cinema. Não fui. Optei por ver Iron Man, em DVD, um pouco por gostar da atuação do Robert Downey Junior, um pouco por gostar de filmes que tratam dos efeitos devastadores de armas, e um muito pela trilha de rock.
De Iron Man migrei para A outra face da raiva (EUA, Alemanha, 2005, dir. Mike Binder) com Kevin Costner e Joan Allen impecáveis em um drama sobre uma história até então simples, muito simples. Mãe e filhas precisam seguir a vida apesar do desaparecimento do marido/pai. Mas um roteiro engenhoso mostra que o que poderia ser mais uma história trivial e descartável transforma-se em uma singela história de como redescobrir afetos, reatar relações, olhar para si e para os outros além das aparências, destrancar-se dos medos, desapegar-se. Se na ficção já não é nada fácil contar uma história e convencer o espectador, o que dizer da vida real?
Qual é a outra face da raiva? Qual é a face da raiva?
Qual é a face?
Olhar-se no espelho todos os dias, e conhecer-se pelo retrovisor, é uma lição de humildade e sabedoria. Talvez fôssemos pessoas menos raivosas se pudéssemos extravasar, com humildade e sabedoria, o que queremos, o que buscamos, o que sentimos, e também o que não queremos, o que não procuramos, o que não mais sentimos.
Reescrever o roteiro, riscar, rabiscar, fazer os cortes necessários. Amadurecer. Seria essa a outra face da raiva?
Não sei... mas olho no espelho e encontro encantamento, fascínio, paixão e paz. Pelo retrovisor, a outra face, encantada e fascinada, apaixonada e apaziguada, sorri.
Baci!!!

domingo, 6 de dezembro de 2009

Cinema e direitos humanos, amor à primeira vista

Queridos e queridas,

Mil desculpas pela ausência prolongada. Sinto falta de escrever aqui, sinto falta. Mas estes meses tem sido dedicados prioritariamente a um projeto pioneiro e prioritário, o Prjeto Itinerante de Capacitação para Defensores de Direitos Humanos no Rio Grande do Sul, e para os preparativos do II Fórum de Direitos Humanos do Rio Grande do Sul.

Retomo este espaço para divulgar a programação destes eventos, que acontecerão nos dias 08, 09 e 10 de dezembro na sala 601 da Faculdade de Educação da UFRGS, com entrada franca e aberto à comunidade em geral. Convido todos e todas para participarem, serão dias muito produtivos, de diálogo, de debate, de troca de vivências, de nos qualificarmos como promotores de mudança para uma sociedade mais justa, mais solidária, mais digna.
Ah! E é claro que na programação estão previstas exibições de documentários, e haverá uma tarde especialmente dedicada ao tema Cinema e direitos humanos amor à primeira vista. Espero vocês lá!
Beijos!
INFORMAÇÕES GERAIS E PROGRAMAÇÃO:
A Liga dos Direitos da UFRGS promove nos dias 08, 09 e 10 de dezembro, na sala 601 da Faculdade de Educação da UFRGS, o II Fórum de Direitos Humanos e o I Projeto Itinerante de Capacitação para Defensores dos Direitos Humanos no Rio Grande do Sul, com o tema O Combate à Violência Institucional e à Discriminação.
A programação se desenvolverá nos turnos da manhã, tarde e noite, com a realização de conferências, diálogos e debates sobre os seguintes temas: Educação, discriminação e direitos humanos; a violência institucional, os direitos fundamentais e sociais; os meios de comunicação combatem ou compactuam com a violência e a discriminação?; Anos rebeldes, dos Anos de Chumbo à democratização do Brasil; O direito à terra no Planeta Terra; os direitos humanos dos invisíveis; cinema e direitos humanos: amor à primeira vista.

Outros destaques da programação: exibição de documentários, o lançamento do concurso nacional de vídeos "Defensores dos direitos humanos no Planeta Terra: ser humano é ficção?", e a exposição fotográfica "A ditadura no Brasil: 1964/1985.

SOBRE A EXPOSIÇÃO: A mostra faz parte do projeto Direito à Memória e à Verdade, da Fundação Luterana de Diaconia, Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação, em parceria com a Secretaria Especial dos Direitos Humanos. A exposição faz uma viagem no tempo. Recupera, de maneira exclusiva, os primeiros momentos do golpe de Estado até os comícios populares das "Diretas Já". Imagens marcantes dos tanques militares na frente do Congresso Nacional, as passeatas estudantis, a resistência dos diversos grupos da sociedade civil, a censura de documentos, a violência, as prisões e torturas são expostas em grandes painéis que colocam o espectador dentro dos acontecimentos.Os eventos tem entrada franca e é aberto à comunidade em geral. Inscrições no dia e local:
Faculdade de Educação da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110, sala 601, Campus Centro).

Informações no site https://webmail.ufrgs.br/services/go.php?url=http%3A%2F%2Fwww.ufrgs.br%2Ffaced%2Fprojetoitinerante email ligadireitoshumanos@ufrgs.br


Dia 08/12 (terça-feira), sala 601 FACED/UFRGS:
9h Credenciamento e entrega de material
10h Abertura: Exibição do documentário Com Dor (Brasil, 2008, Liga dos Direitos Humanos). Lançamento do Concurso “Defensores dos Direitos Humanos no Planeta Terra – ser humano é uma ficção?”
Denise Comerlato (Vice-Diretora da FACED/UFRGS)
Jorge Alberto Rosa Ribeiro (Coordenador do PPGEDU/UFRGS)
Ângelo Ronaldo Pereira da Silva (Vice-Pró-Reitor de Extensão/UFRGS)
Nilton Leonel Arnecke Maria (Coordenador Regional da Defensoria Pública do Rio Grande do Sul)
Giancarla Brunetto (Coordenadora da Liga dos Direitos Humanos e coordenadora geral do Projeto Itinerante de Direitos Humanos do RS)
14h Diálogo: Educação, Discriminação e Direitos Humanos
Beatriz Lang (Coordenadora do Comitê Estadual de Educação em Direitos Humanos do RS)
Célio Golin (Coordenador do NUANCES e integrante da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos/AL/RS)
Roger Raupp Rios (Doutor em Direito e juiz federal)
Virginia Feix (Coordenadora da Cátedra de Direitos Humanos do IPA e coordenadora do Eixo Educação Superior do CEEDH/RS)
Mediação: Julia Schirmer (Advogada, Especialista em Direitos Humanos/UFRGS-ESMPU)
17h Exibição do filme Meu tempo não parou (Brasil, 2008, dir. Silvio Barbizan e Jair Giacomini. Argumento-Célio Golin)
19h Conferência e Debate: A violência institucional, os direitos fundamentais e sociais
Conferencista: Ingo Wolfgang Sarlet (Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Direito/PUCRS e professor da AJURIS)
Debatedores: Carmem Craidy (Coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Educação, Exclusão e Violência Social/FACED/UFRGS)
Castor Bartolomé Ruiz (Coordenador da Cátedra UNESCO de Direitos Humanos e Violência. Governo e Governança e professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia/UNISINOS)
Marisa Formolo (Deputada Estadual, vice-presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos/AL/RS)
Paulo Gilberto Cogo Leivas (Doutor em Direito e Procurador Regional da República)


Dia 09/12 (quarta-feira), sala 601 FACED/UFRGS:
9h Painel: Os meios de comunicação combatem ou compactuam com a violência e a discriminação?
Dagmar Camargo (Coordenadora do Conselho de Rádios Comunitárias RS, coordenadora do Eixo Comunicação da CEEDH/RS e integrante da DIST Brasil)
Daniel Scola (Jornalista, Rádio Gaúcha e RBS TV)
João Rosito (Jornalista, mestrando em Antropologia/UFRGS)
Marco Weissheimer (Jornalista da Agência Carta Maior, Blog RS Urgente)
Telmo Flor (Jornalista, Diretor de Redação do Jornal Correio do Povo)
Mediação: Valéria Beatriz Carvalho (Secretária-executiva da Liga dos Direitos Humanos e fundadora da Organização Corações e Mentes)

13h Exibição do documentário Brazil, a report on torture (Chile/EUA, 1971, Dir.Saul Landau e Haskell Wexler)
14h Diálogo: Anos Rebeldes, dos Anos de Chumbo à democratização do Brasil
Cristina Pozzobon (Jornalista, artista plástica, produtora da Exposição O Direito à Memória e à Verdade, voluntária da Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação-ALICE)
Dariane Rossi (Professora do Colégio de Aplicação/UFRGS, coordenadora do Curso de Extensão Anos Rebeldes: uma abordagem sobre a ditadura civil-militar brasileira)
Domingos Sávio Dresch da Silveira (Procurador Regional da República, professor da Faculdade de Direito da UFRGS)
Jair Krischke (Fundador e conselheiro do Movimento de Justiça e Direitos Humanos)
Juremir Machado da Silva (Jornalista, pesquisador, tradutor, escritor, professor da PUCRS)
Roberto dos Santos Donato (Capitão da Brigada Militar, representante da Associação dos Oficiais da Brigada Militar no CEEDH/RS e CECT/RS)
Mediação: João Rosito (Jornalista, mestrando em Antropologia/UFRGS)
19h conferência: O direito à terra no Planeta Terra
Conferencista: Antonio Sergio Escrivão Filho (Advogado, Assessor Jurídico – Terra de Direitos. Organização de Direitos Humanos, Curitiba, PR, Mestre em Direito Constitucional Agrário/UNESP)
Debatedores: Carlos Cesar D’Elia (Procurador do Estado RS, presidente PROTEGE/RS e do Colégio Nacional de Presidentes dos Conselhos Deliberativos-Programas de Proteção a Testemunhas)
José Otávio Catafesto de Souza (Doutor em Antropologia e professor do Departamento de Antropologia da UFRGS)
Miriam Balestro (Promotora de Justiça da Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos/Ministério Público RS)
Onir Araújo (Advogado, Movimento Negro Unificado do RS)

Dia 10/12 (quinta-feira), sala 601 FACED/UFRGS:

9h Exibição do filme Omissão de Socorro (São Paulo, 2007, Dir. Olívio Tavares de Araújo)

10h Painel: Os direitos humanos dos invisíveis
Adeli Sell (Vereador de Porto Alegre, vice-presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre)
Alessandra Santos (Coordenadora da Associação de Familiares de Apenados)
Bruno Mendonça Costa (Médico psiquiatra, professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde-UFCSPA, diretor do Sindicato Medico do RS e vice-presidente da DIST Brasil)
Mauri Cruz (Sócio fundador e Secretário-executivo do CAMP, diretor regional do Fórum Sul da ABONG, diretor do Cone Sul e Brasil da Associação Latino-americana de Organizações de Promoção para o Desenvolvimento-ALOP)
Mediação: Gilmar Dal'Osto Rossa (Presidente do Instituto Recriar e coordenador-executivo do Projeto Itinerante de Direitos Humanos do RS)

14h Diálogo: Cinema e Direitos Humanos, amor à primeira vista
Alfredo Barros (Montador, professor da ESPM, coordenador da equipe de montagem da Santuário Filmes)
Beto Souza (Jornalista, cineasta, Imagem B Filmes)
Carlos Leoni (Diretor e produtor, Inofim Filmes/SP)
Laís Chaffe (Jornalista, escritora, cineasta, idealizadora da Casa Verde e Atena Produções)
Luiz Carlos Bombassaro (Doutor em Filosofia, professor da Faculdade de Educação/UFRGS)
Mediação: Giancarla Brunetto (Produtora, roteirista e diretora de vídeos em direitos humanos, coordenadora da Liga dos Direitos Humanos e do Projeto Itinerante)

18h Exibição dos documentários
Canto de Cicatriz (Brasil, 2005, dir. Laís Chaffe)
No olho do furacão (Brasil, dir. Duto Sperry, prod. Carlos Leoni)


quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Lançamento do Projeto Itinerante em Direitos Humanos

Queridos e queridas,

A Liga dos Direitos Humanos da UFRGS promove a partir de 21 de outubro deste ano, até junho de 2010, o I Projeto Itinerante de Capacitação para Defensoras e Defensores de Direitos Humanos no Rio Grande do Sul. A atividade é inédita no Brasil, e objetiva qualificar, apoiar e orientar membros da sociedade civil para agirem como multiplicadores de ações promotoras e preventivas de direitos humanos, no que se refere ao combate à discriminação e à violência institucional. Será também um importante momento presencial para interagir com as comunidades locais, e documentar os principais problemas que as afetam.

Esta iniciativa pioneira será realizada em municípios representativos das micro e mesorregiões que compõem o Estado do Rio Grande do Sul: Porto Alegre, Santa Cruz do Sul, São Leopoldo, Bagé, Imbé, Torres, Pelotas, Novo Hamburgo, Passo Fundo, Santa Maria, Ijuí, Uruguaiana, Caxias do Sul, e nas ilhas do Delta do Jacuí.

Especialistas como procuradores, juízes, promotores de justiça e educadores ministrarão aulas abertas, cinedebates e oficinas sobre temas relacionados aos conceitos de direitos humanos, diversidade e discriminação, e o acesso à justiça. São oferecidas 50 vagas para cada município. A atividade é gratuita, com certificado. O Projeto Itinerante tem financiamento do Fundo Brasil de Direitos Humanos. Esta iniciativa foi selecionada entre 700 projetos inscritos de todo o Brasil, e será realizada em parceria com o Instituto Recriar, a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia Legislativa e o Programa de Pós-Graduação em Educação da FACED/UFRGS.

PROJETO ITINERANTE DE CAPACITAÇÃO PARA DEFENSORES DE DIREITOS HUMANOS NO RIO GRANDE DO SUL

Dia 21 de outubro, às 14h, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da UFRGS, e às 19h, no Plenarinho da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Entrada franca. Informações:
ligadireitoshumanos@ufrgs.br


Programação de Lançamento do Projeto
Dia 21/10 Salão Nobre da Faculdade de Direito da UFRGS

Coordenação: Dr. Johannes Doll (Diretor da Faculdade de Educação da UFRGS) e
Giancarla Brunetto (Coordenadora da Liga dos Direitos Humanos)


14h Aula Inaugural
A Capacitação de Defensores em Direitos Humanos: Por que e para quem?
Ministrante: Drª Fernanda Brandão Lapa
(Diretora do Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos/SC, professora da Faculdade de Direito/CESUSC, professora e coordenadora da Clínica de Direitos Humanos/UNIVILLE)

15h Painelistas
Dr. Mauro Luís Silva de Souza (Promotor de Justiça Criminal e Vice-Presidente Administrativo e Financeiro do Ministério Público/RS, professor da FMP/RS)
Dr. Carlos César D’Elia (Procurador do Estado RS, Presidente do Conselho Deliberativo do Programa de Proteção a Testemunhas Ameaçadas do RS, e do Colégio Nacional de Presidentes de Conselhos Deliberativos dos Programas de Proteção a Testemunhas)
Drª Virgínia Feix (Coordenadora da Cátedra de Direitos Humanos do IPA, Coordenadora do eixo Educação Ensino Superior do CEEDH/RS)

17h30 Cinedhebate
Filme O Cabide Azul
Debatedor: Dr. Bruno Costa (Psiquiatra, Diretor do Sindicato Médico/RS e da DIST)

Dia 21/10 19h Plenarinho da Assembléia Legislativa
Coordenação: Jorge Alberto Rosa Ribeiro (Coordenador do Programa de
Pós-Graduação em Educação/FACED/UFRGS) e Dr. Paulo Gilberto Cogo Leivas (Procurador Regional da República/MPF)

Aula Aberta
Direitos Humanos são direitos de todos?
Ministrante: Drª Fernanda Brandão Lapa

(Diretora do Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos/SC, professora da Faculdade de Direito/CESUSC, professora e coordenadora da Clínica de Direitos Humanos/UNIVILLE)

Painelistas:
Dr. Dionilso Marcon (Presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos/AL/RS)
Dr. Jair Krischke (Fundador e Conselheiro do Movimento de Justiça e Direitos Humanos)
Dr. Eugênio Paes Amorim (Promotor de Justiça do Tribunal de Júri de Porto Alegre)
Drª Miriam Balestro (Promotora de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos/MP-RS)
Dr. Luiz Carlos Bombassaro (Professor da Faculdade de Educação da UFRGS)

TODOS LÁ!!!! Beijos!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Nunca baixe a guarda

Queridos e queridas,

Quisera eu poder escrever aqui diariamente, como vinha fazendo. Mas daí o dia precisaria ter mais de 24 horas. Ou eu poderia não dormir mais. A proximidade do lançamento de uma ação em direitos humanos absorve meu pensamento, meu trabalho e minhas intuições. Sobre o lançamento desse projeto, prometo falar aqui amanhã. Porque hoje quero falar sobre as motivações que me levaram a idealizar esse projeto.

Vivemos em um mundo que quer paz, mas vive na violência. Vivemos em um mundo coletivo, onde cada um vive em sua gaiola. Vivemos em um mundo onde o céu é para todos, assim como o ar e a água. E milhões de pessoas morrem todos os dias. Na miséria, na doença, e, de novo, como vítimas da violência. E quando se fala na existência de defensores dos direitos humanos, uma das afirmações que mais se ouve é "direitos humanos é coisa pra defender bandidos. Quem defende as vítimas dos bandidos? Onde estão, nesse caso, os tais defensores dos direitos humanos?"

Todos e todas somos, potencialmente, defensores ou violadores de direitos humanos. Agimos em defesa ou contra, conforme nossas ações, inações e omissões. A violência institucional se alastra, com profundas e históricas entranhas em todos os cantos do mundo. Ditaduras, torturas, falta ou negligência na efetivação de políticas públicas. E há um lado mais profundo, perverso e perplexo, pecado capital mesmo: os narcisismos, os joguinhos de poder, de prepotência intelectual, institucional, político-partidária, ideológica... infelizmente, esse inimigo oculto do ser humano também compactua, e muito, com as violações cometidas. E na minha intuição, esse é o pior problema. Questão de valor, de ética, de consciência, de personalidade. Nas entranhas do inconsciente a violência se mostra de outras formas, mais sutis mas nem por isso menores.

Hoje, reunida com o meu melhor amigo e mestre Ilgo, entre um gole e outro de um maravilhoso suco de açaí, tive que responder a uma saraivada de perguntas inteligentes e pertinentes: por que eu insisto em atuar nessa causa perdida, que envolve pessoas ligadas a órgãos governamentais, que envolve a falta de apoio da sociedade, que envolve a antipatia dos empresários, que envolve entidades com discursos e recursos, mas que não investem os recursos e não saem dos discursos... enquanto a violência continua, enquanto as vítimas sofrem, órfãs, enquanto o mundo rola sabe-se para onde...

Apesar de eu responder prontamente a todas as suas perguntas, percebi, comovida, que foi ele que me deu a resposta. Com um olhar um tanto cético com relação a possíveis mudanças para melhor em nossa realidade, ele disse que só por um motivo poderia colaborar nesse projeto.
Por minha causa.

O que torna as pessoas melhores, e portanto, o mundo melhor, é ter uma causa. Eu só fiz e faço e farei coisas por causas. Meus filhos são a causa de minha vida. Meus amigos também.
Meu melhor amigo também. E todos aqueles que conheço e que não conheço, mas que precisam de ajuda, também. Essa é a resposta.

Nunca baixar a guarda. Nunca perder a esperança.
O lindo e brilhante ator Russel Crowe, clone do Eddie Vedder, brilha na pele do personagem Braddock, no filme A luta pela esperança (Cinderella Man, 2005, direção de Ron Howard). Ele luta não apenas por ser um lutador de boxe, naquele roteiro previsível do homem que conhece a fama, a decadência e depois tenta subir os degraus novamente. O mundo do boxe nesse filme, é uma alegoria ao mundo real, um ringue onde estamos sempre lutando, tentando desesperadamente fugir do nocaute. Ninguém quer perder. Queremos o campeonato mundial, a liderança. Lá pelas tantas o personagem Braddock, desanimado, se questiona: lutar por que? Contra a fome? A ganância? Não se pode lutar contra o que não se vê. Braddock volta a vencer quando percebe que há, sim, motivos para lutar. Seus filhos, sua mulher, o gosto pelo que faz. Ele engole o orgulho, se humilha, ele valoriza o que realmente tem valor. E seu amigo e agente (o formidável ator Paul Giamatti) é quem lhe motiva, intui o seu valor e é dele a frase:
Nunca baixe a guarda.

Então, é simples assim. Difícil é levar golpes na vida e levantar de novo. Mas, vejam, um suco, uma frase, uma causa, e um, e dois e vários, juntos, unidos, podemos transformar desilusões em sonhos, utopias em realidades. Sonhando acordados, acordando para uma realidade melhor.
Eu tenho certeza que isso é possível.
Ótimo feriadão!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O nariz de Benigni, sem efeitos especiais

Queridos e queridas,

Estava eu novamente com saudades de aparecer aqui. Mas desde que fui a Carazinho, na sexta-feira passada, não tive tempo de me dedicar a este espaço como ele merece: sentada a derramar no teclado os pensamentos e sentimentos que me vierem a tona. É que eu fiquei literalmente derramando os pensamentos e sentimentos lá naquele município que foi tão acolhedor, com as professoras da Escola La Salle que organizaram um congresso internacional impecável, e que apesar de todo o trabalho encontraram tempo para rir, rir muito em uma casa de massas com direito a sofiotti e muitas histórias engraçadas, a começar pela minha mais nova amiga, a professora Eloísa, que vai se casar nesse próximo fim de semana após dez anos de namoro. Com despedida de solteira, festa na igreja e imaginem o galeto com polenta e o festerê depois do yes, I do.

Minha filha tem razão, eu realmente sofro da síndrome de querer não retornar dos lugares para onde vou. A vantagem é que quando eu partir desta para a melhor, certamente não voltarei aqui para assombrar ninguém... Ou, olhando por outro ângulo, sou a existencialista mais otimista que conheço. Aprendi, após levar muitos golpes e estocadas metafóricos, que nos fortalecemos quando aprendemos a lidar com os problemas, em vez de negá-los ou delegá-los. Quando aprendemos a ver um mesmo ponto sob vários ângulos. Quando nos desapegamos de nossos problemas, de nossos conflitos, e nos colocamos no lugar dos outros e aí então percebemos que ninguém é melhor do que ninguém, que nenhum problema é tão maior ou pior do que o de outra pessoa. Que rir ainda é, sim, o melhor remédio.


Daí o fato de eu gostar de comédias, mas as de humor negro. Como A Vida é Bela. Mas como, comédia? É um baita drama! Segunda guerra, alemães nazistas, perseguição aos judeus, o Holocausto, os campos de concentração. Onde está a graça? (afinal, eu não sou nazista!). A graça está, em primeiro lugar, em olhar o nariz e o que sobrou do rosto do protagonista do filme, o italiano Roberto Benigni. E está, em segundo lugar, nas brincadeiras, trejeitos e trapalhadas que seu personagem Guido cria para seu pequeno filho, na Itália dos anos 40, enquanto eles ficam em um campo de concentração. Guido faz de tudo para o filho acreditar que eles estão em um grande jogo, e que tudo o que acontece com e em volta deles são parte do jogo. Por maior que seja o terror, por pior que seja a violência, tudo faz parte do jogo.

Humor negro, eu falei. Assim é a nossa vida, um grande campo de concentração, um grande caldeirão, onde somos jogados ou aprendemos a jogar. O inferno, para Sartre, são os outros, não é o diabo. Então, a grande sabedoria é jogar para driblar os problemas, as quedas, os conflitos, as situações, ou provações, se assim preferirem, que todos, em algum momento da vida, passam. Doença, fossa, dívida, dúvida, transtorno. Amar demais. Amar de menos. Podemos escolher no jogo: somos Guido, o louquinho que foge da realidade, ou podemos ser Guido, o sábio que burla os problemas para, sorrindo, tocar a vida pra frente, pois que ela só começa a acabar quando a gente desiste dela primeiro.

A Vida é Bela, de 1997 e dirigida pelo próprio Benigni, recebeu três Oscars. Comoveu milhões de pessoas. A mim dizem, que filme triste. Se o filme é triste, como pode a vida ser bela?

Quando Benigni, por exemplo, olhou-se bem no espelho e percebeu que seu nariz seria seu maior defeito ou seu maior charme. Quando resolveu rir de si mesmo, antes de fazer os outros rirem. E quando decidiu tirar proveito de algo que poderia faze-lo quebrar todos os espelhos deste planeta.

Quando eu vejo uma mãe que abraça seu filho em uma praça, enquanto o único abraço que essa mãe recebe é do frio que encobre nossa cidade, eu penso, como pode a vida ser bela? Mas daí eu olho bem nos olhos dela, e vejo um brilho no seu olhar. Como o sorriso das minhas novas amigas de Carazinho. Que noite bela! Como a companhia dos amigos que vieram me ver no meu derradeiro aniversário. Que dia belo! Como eu e meu filho Thomas brincando de jogar balão. Sensacional é a vida. Como degustar os pratos elaborados com os temperos do afeto e do carinho de minha filha Chef Rafaela e do meu genrinho Chef Umberto. Não tem preço.

A vida é bela. Comédia dramática, drama, e sem efeitos especiais.
Boa noite!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O melhor dos mundos

Queridos e queridas,

Fala-se na existência do primeiro mundo. Subentende-se que seja o melhor dos mundos, o mais belo, o mais próspero, o mais justo. No outro lado, o terceiro mundo. O pior, o mais pobre, o mais violento, o mais subdesenvolvido. De um lado, os poderosos, os mais importantes. Do outro lado, os coitados, os invisíveis. Se um tsunami ocorrer no Primeiro Mundo, será o fim do mundo. Mas se porventura ele ocorrer no Terceiro Mundo, será uma salvação para o planeta. Salvam-se os que valem, varrem-se os que estorvam. Equilíbrio total...

Entretanto. (Adoro essa palavra, ela sugere que tudo o que foi dito antes dela não valia nada). E não valia mesmo. Entretanto, quem se atreve a impor uma linha imaginária ou real que separa uns dos outros? Que coloca os terno-e-gravata na sala Very Important Person, e os demais um pouco depois do fim do mundo... Quem se outorga o direito de afirmar que esse país ou aquele outro são superiores, são melhores, são exemplares?

Sempre que viajo fico, na véspera, apreensiva. Sei lá porque. Minha filha Chef Rafaela sorri e me diz - é sempre assim, depois tu volta querendo morar no lugar onde foi... Ela tem razão. Entretanto... em Paris não foi assim. Foi uma experiência inesquecível, com certeza. Vinhos de primeiro mundo. Paisagens de primeiro mundo. Os cafés, meu Deus, os cafés. Queria morar neles. Entretanto. Não me senti em casa. E não foi por causa do idioma, e por obviamente estar do outro lado do mapa. É porque as pessoas que lá conheci foram, no máximo, diplomatique. Faltou essa afetividade, essa sensibilidade, esse acolhimento. Isso, sim, é coisa de primeiro mundo. Remonta ao mundo original, uterino. Quando nos sentimos seguros, aquecidos, protegidos pelo instinto maternal, pelo cordão umbilical. Lá, do outro lado do mapa, nós brasileiros somos ainda confundidos com argentinos, Porto Alegre com Buenos Aires, e Pelé ainda é o ídolo mais importante e planetário que nos representa. Um círculo que corre para todos os lados é o que simboliza nossa brasilidade. E a floresta amazônica, com índios pululando por todos os lados, com bananas, muitas bananas. Esse é o Brazil for export, em tese. Ah, e Lula, o maior estadista brasileiro desde sempre... pena que não o conheceram quando ele era o Lula original.

Daí que quando estive em Dourados me dei conta de que o primeiro mundo está onde nós o construimos. Nós desenvolvemos, ou não. Nós nos empoderamos, ou não. Dentro deste país, deste imenso país, há o melhor e o pior dos mundos. Não é fantástico esse paradoxo? Nós colocamos uma linha imaginária e nos contentamos com o estigma de sermos o país do futuro. Já fomos o milagre brasileiro, e parece que não aprendemos nada com isso. O Brasil é carnaval, futebol e também não é só carnaval, só futebol. O Brasil é um road-movie.

Como o maravilhoso filme Cinema, aspirinas e urubus, de Marcelo Gomes. Realizado em 2005, essa pequena obra-prima mostra o ano de 1942, em plena II Grande Guerra. Um alemão viaja pelo Brasil, fugindo das notícias da guerra, onde conhece o morador de um vilarejo, que por sua vez viaja em busca de uma vida melhor, em um lugar mais desenvolvido, como o Rio de Janeiro.

Não por acaso eles se conhecem em uma estrada de chão batido, terra de ninguém. Não por acaso eles começam uma nova viagem, aquela derradeira viagem que significa uma jornada interior, em busca de novos e verdadeiros significados. A aventura maior que existe, descobrir sentidos para viver onde se está, e para onde se vai. Nem sempre o lugar mais industrializado é o melhor para se viver. Nem sempre o retirado fim do mundo é o pior lugar para estar. O estado de espírito, o espírito de luta, estão conosco, ou não, onde estivermos, e para onde formos. Depende de nós, ficamros nos entupindo de aspirinas, anestesiados das agruras da vida, a mercê da ação dos urubus de todos os tipos: especuladores, politiqueiros, bajuladores... ou tocarmos a vida pra frente, pra próxima parada, de carona, a pé, na direção, na contramão... o melhor dos mundos existe. Entretanto... cada um é que o faz. Ou desfaz.
Baci!

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

CineDHebatendo direitos humanos

Queridos e queridas,

Cinema e direitos humanos é um dos temas que mais trato neste blog. Porque são estes os ponteiros de meu relógio biológico, cinema e direitos humanos. Por esta razão, desde a criação da Liga dos Direitos Humanos, que eu fundei e coordeno desde 2007, existe uma ação denominada CineDHebate, um ciclo de exibição de filmes com debates sobre o tema abordado em cada sessão. Apesar de eu ter tentáculos para dar conta de uma vida atribulada, eles não são mais suficientes. A Liga cresceu - e que ótimo que cresceu! Eu vejo a Liga como uma criança que está adolescendo, um projeto que começa a espraiar seus horizontes interdisciplinares e transdisciplinares.

Regionais e transnacionais. É o programa de rádio, a produção de documentários, a divulgação de notícias e eventos, a organização de aulas abertas, fórum anual, e de um novo projeto sobre o qual falarei em breve. E o cinema, desde o começo, sempre cumprindo uma função que também é muito importante e digna na educação em direitos humanos: a exibição de curtas, documentários e longas de ficção que despertam nos espectadores uma visão própria, uma consciência crítica e reflexiva. É um grande momento de debate, de trocas, de compartilhar pensamentos, opiniões, posições. De questionar, de discutir pontos e contrapontos. Aprende-se muito em uma sala de cinema.
Daí a origem e a existência do CineDHebate da Liga dos Direitos Humanos.

No ano passado, a Gárdia, querida amiga e colega da Liga, coordenou a seleção dos fimes e a organização dos debates. Lembro que a seleção priorizou curtas-metragens e documentários nacionais, muitos com temas bem regionais e todos sempre muito polêmicos. Temas como aborto, sistema prisional, prostituição, foram alguns dos pontos de debate nos filmes escolhidos. Neste ano, a querida amiga Dagmar Camargo, companheira da Liga, além de ter uma intensa e extensa militância em direitos humanos (como coordenadora da CONRAD, coordenadora de projetos da DIST e da área de Comunicação no Comitê de Educação em Direitos Humanos do Rio Grande do Sul), assumiu a coordenação do CineDHebate, em uma parceria da Liga com a DIST - Democracia, Inclusão Social e Trabalho.

Eu admiro demais a Dagmar. Desde os tempos em que nos conhecemos, como colegas na Primeira Turma do Curso de Especialização em Direitos Humanos da UFRGS e Escola Superior do Ministério Público da União. A Dagmar sempre sentou na frente, primeira fila, e uma das que mais participava nas aulas, com perguntas, com sugestões, com críticas, com contribuições. E sempre agitando bandeiras, viajando por este e por outros Pampas, socializando notícias, ações, campanhas, manifestações. O tempo para a Dagmar certamente não tem apenas24 horas.
E nem ela tem tentáculos.
Ela os produz e reproduz, com uma vitalidade e um espírito de luta admiráveis.

O CineDHebate 2009 tem a cara da Dagmar. São filmes impecáveis, escolhidos pelos temas efervescentes, em questões globais como o meio ambiente, a crise financeira, os poderes das grandes corporações, a privatização do Rio São Francisco, os desafios na educação em um ambiente de violência e exclusão social, and so on.

Na próxima semana, o CineDHebate, que sempre acontece às sete da noite na Sala Redenção da UFRGS, com entrada franca, exibirá o filme Escritores da Liberdade. e na sequência, debate com a participação de Mariliane Ferreira dos Santos, diretora do CPERS/RS, e Ana Maria Bueno Accorsi, professora da UERGS, e que desenvolveu trabalho sobre o livro Escritores da Liberdade ainda não traduzido para o português. Escritores da Liberdade é uma co-produção alemã e norte-americana de 2007. Com direção de Richard LaGravanese, a obra é uma adaptação da história real da professora Erin Grunwell, uma professora novata que tenta inspirar seus alunos problemáticos a aprender algo sobre tolerância, autoestima, e valorização dos sonhos.
O filme aborda de uma forma comovente o desafio da educação
em um contexto social problemático e violento.

E no dia 25 de novembro, é a vez do filme A Questão Humana. Após a exibição, debate com o psicólogo Fernando Lunkes, diretor de comunicação do Sindicato dos Psicólogos do Rio Grande do Sul. O filme é uma produção francesa de 2007 baseada no romance homônimo de François Emmanuel. A obra dirigida por Nicolas Klotz, completa a trilogia sobre a crise econômica francesa, composta também pelos filmes A Pátria, e A Ferida.

Em A Questão Humana, o psicólogo da filial francesa de uma petroquímica alemã investiga, a pedido do vice-presidente da corporação, a vida do presidente, que é suspeito de insanidade mental. Este é um filme de investigação, no qual o próprio investigador - o psicólogo - passa a sofrer uma profunda transformação. Há no filme uma linha que aproxima o modelo empresarial contemporâneo ao Holocausto.
Reestruturação, reengenharia, realinhamento, eis alguns termos cuja linguagem asséptica e tecnocrática designa uma manipulação de pessoas em
um sistema no qual o que menos importa são as pessoas.

O filme acende uma polêmica ao fazer essa comparação. Ela é possível e plausível? O protagonista-psicólogo-narrador é um homem que ao investigar, sofre com o que descobre. Sua integridade é testada o tempo todo, bem como a sua própria sanidade mental.
Talvez sua insanidade seja a prova de que finalmente ele descobriu o que buscava.
Boa noite!