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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Bubble girl

Queridos e queridas,


Uma palavra que eu adoro é "coisa". Ela pode ser usada para tudo, em qualquer momento, situação, perspectiva. Quando falta a palavra certa. Quando ela é a palavra certa. Quando não há mais palavras. Quando não se presta atenção nas palavras. E quando se quer ser ofensivo com as palavras também. - Fulano está muito doente, que coisa triste, hein... - A coisa mais importante é... - Todas as coisas que eu quis fazer foram... - Beltrano é uma coisa querida... - Nada será mais a mesma coisa... - Me diz uma coisa... - Fulana é uma coisa!... - Que coisinha, hein!... e coisa e tal.

Quando olham para minha mão enfaixada, poucos perguntam o que houve. Uns deduzem por conta própria o que deve ter sido... outros apenas olham de lado, constrangidos e imaginando o que possa ser. Para outros, isso não importa nem um pouco. E há ainda os olhares que cruzam com mera curiosidade. E coisa e tal.

Os dias passam e a bolha diminui muito paulatinamente. A enfermeira-general me apelidou de moça-da-bolha. "Lá vem a moça da bolha"! E, que coisa!, eu até estou começando a achá-la simpática. A bolha levou-me até ela. E ela sensibilizou-se com a bolha. Apesar daquele jeitão e vozeirão, ela começa a me transmitir uma coisa que eu poderia chamar de afetuosidade. O olhar preocupado dela trai o seu caminhar em marcha, o esmero em trocar o curativo contrasta com o seu falar vociferador, os vincos no rosto graúdo e avermelhado denunciam que por trás de toda aquela sisudez há uma senhora endurecida pelos anos e anos trabalhando em um posto de saúde.

No filme Bubble boy, de Blair Hayes, o ator Jack Gyllenhaal interpreta um jovem que fica em uma bolha de plástico por problemas em seu sistema imunológico. Até que se apaixona e resolve construir uma bolha móvel em busca de seu amor.

E eu, acostumando-me à companhia de minha bolha, coisa involuntária, indesejável mas já fazendo parte de mim, fico a pensar o que será de mim no dia em que ela desaparecer. Não irei mais visitar a enfermeira-general. Porque lá só se visita com boletim de ocorrência e com doença. Não receberei mais os sermões dela para me cuidar, que eu finjo que detesto mas adoro, por saber que ela se preocupa comigo... A moça da bolha deixará de ser a moça da bolha. Ninguém me chamará de a moça sem bolha. Eu deixarei de ter alguma importância. Voltarei a ser um ser insignificante... Voltarei a habitar minha bolha de plástico, aquela que cada um de nós habita. Aquela bolha que nos protege dos outros, de nós mesmos. Nos deixa "imunes". Não me refiro à imunidade parlamentar, aquela imundície. Refiro-me à imunidade que nos preserva, mas que também nos distancia dos outros, dos verdadeiros relacionamentos. E, na verdade, o que vale a pena é construir uma bolha móvel para ir em busca de seu amor. Ficar sem ar, ficar sem curativo. Mas ficar feliz. E isto é a coisa que realmente importa.
Sejam felizes!

Um comentário:

  1. Interessante, nunca vi esse filme! Qto à bolha, pode ficar tranquila: me encarrego de te chamar de "a moça da bolha". Pronto! Problema resolvido, hauahau...

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