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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Eu, John Bonham e o peixinho

Queridos e queridas,

Eu me considero uma grande observadora dos seres humanos. O que não impede que eu escorregue na calçada, caia sentada, tropece ao subir na lotação, deixe meu celular cair no chão com a minha "mão de alface" e derrube minha papelada toda no elevador. Lotado, claro. Isto me faz lembrar de minha infância. Já espetei o sofá da casa de meus pais pra ver o que é que tinha dentro. Tomei água com gema de ovo achando que era algum aperitivo de adultos e que escondiam de mim. Bebi água com um mini-filhote de peixinho, era tão micropequenininho que eu nem senti. Foi homicídio culposo. Até hoje me lembro do medo de entrar na água dos rios e no mar. Puro sentimento de culpa.
Fui eleita a primeira princesa da escola, mas no dia do desfile em carro aberto minha mãe não me deixou ir. O tempo estava para chuva, e segundo ela, eu iria me resfriar. Não pude ir e não choveu. Me senti a própria Gata Borralheira. Participei da banda da escola. Ficava no fundão. Toquei pratos, depois fui pra caixa com baquetas, e finalmente fui escolhida para ser uma das duas balizas da banda. O colega loiro de cabelos encaracolados e lânguidos olhos verdes tocava o bombo e olhava, ora para o meu lado, ora para o lado da outra baliza. A coreografia de olhares competia com a coreografia da banda que ensaiamos quase o ano inteiro.
Na festinha de fim de ano, na reunião dançante da turma, ele dançou com a baliza, aquela. Quando ela saiu, ele veio dançar comigo. Dancei. No outro dia, pedi pra sair da banda. Pedi para o meu pai me comprar uma bateria. Bateria?, arregalou ele os olhos de suave olhar. É, bateria, respondi. Eu tinha violão, mas queria aprender a tocar piano. Eu tinha flauta, mas meus pulmões não gostavam daquele exercício respiratório. Eu tinha um triângulo. Mas eu não queria um triângulo. Queria uma bateria, minha primeira terapia.
Ouvi muito Led Zeppelin. John Bonham era o meu grande ídolo. Curei minha primeira grande fossa. Eu era a primeira princesa, mas não tinha príncipe. O rock and roll me livrou da depressão.

No colégio das freiras, eu me transformei no símbolo da revolução. Usava calças jeans no lugar da "saia quatro machos". Tênis no lugar dos sapatinhos pretos com meias brancas até o joelho. E pulava a cerca na aula de Educação Física para ir jogar vôlei na praça ao lado da Escola. O cabelo, que era loiro, começou a escurecer. Elas achavam que eu estava pintando. Juro, isso foi sem querer. Mas eu estava adolescendo. Buscando minha identidade, procurando pelo meu eu. Seria eu a aluna exemplar? A princesa? A gata borralheira?
Até hoje eu não sei. Mas continuo adorando Led Zeppelin, e John Bonham é insubstituível. Há coisas e pessoas na vida da gente que ficam. Mesmo quando vão embora. Por isso, por mais bizarra que eu seja, não há nada melhor do que adolescer. Cair e levantar. Escorregar e rir de si mesmo. Derrubar e juntar. E sobre o peixinho, o coitado do peixinho... superei meu trauma. Em fevereiro deste ano, depois de uma breve mas intensa taquicardia, atravessei um córrego que ia de um lado ao outro nas areias de Siriú. Naquele momento, a Giancarla de minha infância voltou a existir.
Fiquem bem!

Um comentário:

  1. Mas que interessante... Agora entendo o medo do mar, hauahaauahauahaua...

    E quanto à pular o muro da escola... Que coisa mais feia, Giancarla! Transgredindo as leis do colégio de freiras, ahauahauahaua... Parabéns!

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