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Porto Alegre, RS, Brazil
escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O último roteiro

Queridos e queridas,

Eu li que Due Telegrammi, o último roteiro escrito por Michelangelo Antonioni, será produzido por Jeremy All e Zev Gruber, da Jaz Filmes. O célebre diretor italiano tinha 95 anos quando escreveu esta história, sobre três pessoas que se envolvem em uma apaixonada relação de amor e de luta pelo poder. Antonioni morreu em 2007, um pouco depois de terminar esta obra, e desde 1985 carregava graves sequelas de um AVC. Mas só parou de fazer cinema porque morreu. Neste plano. Já muito debilitado, aos 80, 90 anos continuava a fazer filmes, em parcerias com cineastas como Wim Wenders (Além das Nuvens, 1995), e Wong Kar-Wai e Steven Soderbergh (Eros, 2004).
Antonioni foi genial. Porque foi fiel a si mesmo. Fez cinema para si, antes de fazer para os outros. Sentia a necessidade de expressar a angústia que é viver no meio burguês, em meio a alienação, a solidão, ao tédio. Ao contrário do que muitos afirmam, não acho que seus filmes eram lentos. Expressavam a vida modorrenta de muitos e outros e tantos. Seu estilo de filmar não era com pouco movimento. Acompanhava a lentidão do olhar, do caminhar, do pensar, do decidir, do fazer humano. Na cena em que uma mulher fica vagando, vagando, vagando na cidade... Antonioni não estava a se perguntar se agradaria o público ou não. Estava a mostrar, com poesia e maestria, a aflição humana. A melancolia, o desespero. Despia seus personagens de roupagens superficiais. Nem todo o espectador está a fim de se despir de seus preconceitos, de suas próprias fugas. Ele filmou os ricos pobres de espírito. Os casais separados no mesmo teto. Os indiferentes em um mundo que clama por justiça.

Ao contrário de ser lento, seu ritmo mostra, freneticamente, a dor que as pessoas encobrem dos outros e de si mesmas enquanto podem. A frivolidade que ele não romatiza; desmistifica. Antonioni foi cru, cruel. Nas longas sequências, a longa agonia. Como na trilogia sobre a solidão, e no filme A Noite, quando Lidia (Jeanne Moreau) e Giovani (Marcello Mastroiani) conversam sobre o nada em que se transformou o seu casamento. Enquanto isso, em um outro plano, Antonioni continua a contemplar toda a superficialidade das relações sobre as quais ele tanto escreveu e filmou.
Abração.

Um comentário:

  1. E aí eu vejo mais uma relação de filmes que não vi e de diretores e/ou roteiristas que não conheço!

    ZERO PRA MIM!

    Ahahahaha...

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