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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Um mundo glamuroso


Queridos e queridas,

Como cinéfila, gosto de cinema. Como roteirista, produtora e diretora, gosto de ficção, onde não há limites para voar, e gosto de documentário, onde a gente corta as asas para caminhar no mundo real. O trabalho do documentarista é de muita pesquisa, envolvimento, aprendizagem. É fundamental estabelecer vínculos com os personagens, que não são construídos, mas reais. Escolher, ou melhor dizendo, "ser escolhido" por uma história, um tema, um problema, um conflito. E apresentá-la em sons e imagens, sabendo que há um compromisso ético em retratar a realidade, ainda que seja sob um ponto de vista sempre autoral. E aí entra a questão fundamental em qualquer debate sobre documentário: até que ponto é possível retratar fielmente a realidade? Até que ponto os personagens reais continuam sendo reais quando estão sob a lente da câmera, com um microfone na lapela? Pois eu quero lançar outra questão, além desta, e que me parece muito mais importante. Quais são as responsabilidades do documentarista com a/s pessoa/s com as quais está envolvido na produção do filme?

A falta de divulgação e de uma distribuição minimamente decente de documentários é tão verdadeira quanto é o crescente interesse dos cineastas em realizarem esse tipo de produção. As pautas estão bombando. Nunca vivemos tantas crises simultâneas, o mundo cibernético e multicultural nos espirra conflitos novos a cada segundo. Alguns diretores optam por filmes com um viés de documentário, ou um docudrama, e assim o cinema atual vai miscigenando novas possibilidades de contar uma história real ou imaginária, mas sempre uma história.

Um exemplo para refletir. O diretor Danny Boyle e o produtor Christian Colson, do oscarizado e multi-premiado filme Quem quer ser um milionário?, compraram um apartamento para o ator-mirim indiano Azharuddin Ismail, e anunciaram que vão comprar um apartamento para a atriz-mirim Rubina Ali. As crianças tiveram suas casas destruídas pelas autoridades indianas, sob a alegação de construção irregular. O diretor Boyle declarou que a mídia é responsável pela tensão e pressão criada em torno da situação das crianças indianas. Segundo Boyle, "eles tiveram acesso a um mundo, um mundo extraordinário e glamuroso e, compreensivelmente, querem que suas vidas sejam completamente transformadas". O diretor e o produtor criaram uma fundação para arcar com os custos da educação de Ismail e Ali até os 18 anos, e doaram 500 mil libras a uma ong que atua com crianças em uma favela de Mumbai.

Apesar dessas louváveis iniciativas, a tensão e a pressão as quais Boyle se refere estão longe de chegar ao fim. Por quê? Porque Boyle cortou as asas para caminhar no terreno real da miséria, onde não há glamour, não há nada de extraordinário. Onde todos gostariam de ter suas vidas transformadas. E quando são, são para serem despejados e agredidos, como as crianças que iluminaram o filme. Será que o cinema precisa ter tanto glamour? Será que no mundo real existe alguém que não quer ser milionário?
Fiquem bem.


Um comentário:

  1. Falando em documentários, sugiro um: "Nós Que Aqui Estamos Por Vós Esperamos". Assisti na faculdade, pra um debate durante a aula de Filosofia. Vale a pena! Pega na locadora qdo eu estiver aí, quero assistir de novo!

    Não acho que ser milionária é a coisa mais importante na vida... Mas, sinceramente, creio que ter um milhão na conta (ou vários, hahaha) tornaria possível meu sonho de viajar pelo mundo!

    HA! HA! HA!

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