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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

quarta-feira, 24 de junho de 2009

O outro como um outro eu

Queridos e queridas,

Ontem eu escrevi sobre uma cena antológica que se referia à perseguição de inocentes. Diversos cineastas transpuseram para as telas do cinema suas visões sobre as invasões, as guerras, os genocídios, as lutas de classes, os regimes totalitaristas, de direita e de esquerda, e as ilusões da sociedade do espetáculo. Mas foi justamente um cineasta estreante alemão, de nome tão comprido quanto complicado para nós, não alemães - Florian Henckel Von Donnesmarck, que escreveu e realizou um filme ao mesmo tempo dramático e sarcástico sobre como um governo autoritário tenta manter o seu poder, mediante o total controle e vigília sobre os cidadãos e de um modo especial sobre os artistas. Estou falando de A vida dos outros, Oscar de melhor filme estrangeiro em 2007.

Ah, os artistas, sempre eles. Tão fúteis, tão inúteis, e tão indesejáveis no "sistema". Os que não se enquadram, não se entregam, não se deixam cooptar, os que captam no ar fétido e invisível a corrupção, a impunidade, a mentira, a falsidade, a traição. Os que transpõem para o cinema, a literatura, o teatro, a música, as artes plásticas, toda a dor e o estupor de ser testemunho de uma época de mordaça, de luxúria, de globalização da alienação, de uma guerra fria que dá lugar a uma outra guerra, e a uma outra guerra, e a toda e qualquer outra absurda guerra. Da babel da incomunicabilidade entre as pessoas. Que são vistas como números de CPF, de Carteira de Identidade, que ocasionalmente são indispensáveis pelo seu Título de Eleitor, para votarem na esperança de nações melhores. Menos corporativistas, menos clientelistas, menos totalitaristas, menos pseudo-democráticas.
Pois o alemão Florian reconstitui neste filme a Berlim Oriental cinco anos antes da queda do Muro. O ator alemão Ulrich Mühe interpreta o protagonista Wiesler, um agente da polícia secreta alemã que explica aos seus alunos como fazer as pessoas que se opõem ao regime confessar seus "crimes". Ele vai investigar o dramaturgo Dreyman, o único simpatizante do sistema, e se apaixonar por Christa-Maria, namorada de Dreyman. A partir dessa invasão da privacidade do dramaturgo, Wiesler vai fazer uma série de descobertas, antes e após a queda do muro de Berlim. Chega a ter medo de sua própria sombra, ele que se transformou em uma sombra na vida dos outros. Mühe tinha câncer de estômago, e morreu seis meses depois do filme ganhar o Oscar, em fevereiro de 2007. Ele era um dos líderes do teatro na extinta Alemanha Oriental. Sua interpretação marcante é uma das grandes razões de se assistir este filme.

E também porque a vida dos outros é a dos outros. O problema é que regimes totalitários não respeitam a alteridade. Nem os regimes liberais, para os quais só importa, unicamente, a individualidade. Perceber e compreender o outro como um outro eu, como na regra de ouro aristotélica, retomada por Tomás de Aquino, é buscar na solidariedade a possibilidade de uma vida mais justa, mais fraterna. Amar uns aos outros...
Se é possível? Eu recomendo que assistam A vida dos outros. O filme será exibido nesta quinta-feira, às 18h30, na Faculdade de Educação da UFRGS, no ciclo Imagem e Conceito, sob a coordenação do professor Luiz Carlos Bombassaro.
Beijos!

Um comentário:

  1. Guerra é sinônimo de lucro pra mtos governantes. Absurdo isso, pois pessoas inocentes morrem, famílias são dilaceradas, vidas são destruídas... Mas é incrivelmente absurdo pensar que há muita gente que vê e faz guerra como forma de fazer dinheiro.

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