Quem sou eu

Minha foto
Porto Alegre, RS, Brazil
escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

terça-feira, 30 de junho de 2009

Problema e solução

Queridos e queridas,

Se é verdade que a toda solução precede o problema, não é verdadeiro afirmar que todo o problema tem solução. Isso não é certo, não é justo, mas assim é que é na vida real. Deveria ser algo lógico, matemático, causa e efeito. Por exemplo,uma maçã cai da árvore. De cima para baixo. Primeiro a causa, depois o efeito. Só que no cinema isso não tem graça nenhuma. Soa clichê, batido, comum, normalzinho. A maçã tem que ir debaixo para cima, de um lado para outro, girar em torno de si mesma, gravitar em torno de Saturno. Qualquer coisa, menos cair em cima da cabeça de Einstein enquanto ele cochila. Mas poderia ser na cabeça de Eisenstein, enquanto ele estava filmando.

Ao contrário dos que defendem a filmagem como o mais importante no processo de produção de um filme, eu sou adepta da importância cada vez maior da montagem, da finalização. Não tirem do contexto o que acabei de afirmar. Sem filmar não há filme, óbvio. Mas a filmagem é uma parte - importantíssima - a partir da qual chega-se ao começo da etapa final daquela idéia que se transformou em um roteiro que se transformou em cenas e locações e personagens e enquadramentos e Eureka!, vamos para o corte um, dois, três, vinte e três, sei lá, até que o diretor diga que o filme terminou. Ah, eu também sou adepta de que o filme não termina. Quem decide isso é o espectador. O fim pode não ser o fim, mas o começo. Mas daí já estamos na filosofia.
Voltando:
Quando o roteirista cria a história, em seu imaginário passa um filme por sua mente. Quando o diretor lê essa história, um filme, talvez não o mesmo, passa pela sua cabeça. Quando os demais integrantes da equipe lêem o roteiro, as cenas decupadas e tal, vários filmes estão passando por suas cabeças. Criar uma identidade em torno de uma idéia, de uma história que se quer mostrar, eis o desafio de criar um novo filme. E essa é a parte mais maravilhosa, da criação que começa no começo, continua no processo e prossegue na finalização. E continua no lançamento, nas exibições, nas apreciações do público, dos críticos, e do que a própria equipe vai achar depois de ter trabalhado oito mil horas em dias e noites viradas e regadas a café, coca-cola e mais café e mais coca-cola (não é propaganda, é que eu particularmente adoro café e adoro coca-cola).

Problema: roteirista estressado. Em crise. Endividado. Crise da meia idade. Separou-se. Não separou-se. Prazo para entregar o roteiro.
Solução: Resolver a crise. Pagar as contas. Ou ficar no spc, serasa, ser fichado no fbi. Separar-se. Não separar-se. Ter um caso. Não, não, seria mais outro problema...

Problema: diretor com crises de superego. Síndrome de Orson Welles. Não consegue reunir a equipe dos seus sonhos. Orçamento baaaaaaixo. Cansado de galinhar. Medroso para assumir um compromisso.
Solução: Resolver a crise. Terapia. Esconder os espelhos por onde passar. Repetir a palavra Rosebud como um mantra. Remédios tarja preta. Chamar cada membro da equipe com o nome de um personagem clássico do cinema. Acreditar que são eles, de verdade. Mais remédios. Duas tarjas pretas. Procurar novas experiências sexuais. Ou seria mais um problema...

Problema: Montador entediado. Monta filmes 48 horas por dia. Não sabe se está no planeta Terra, se hoje é 30 de fevereiro, se Pelé morreu, quem é o novo astro do Big Brother. Não consegue beber, porque seus dedos não conseguem teclar o copo. Nem fumar, porque seus dedos não teclam o cigarro. Nem...
Solução: Resolver a crise, fisioterapia 48 horas por dia. A cada 15 minutos de intervalo, assistir Jornal Nacional, ou da Record, ou do SBT, para ficar por dentro do que é notícia no mundo. Voltar a beber, de canudinho, e a fumar e a ... não, chega de problema...

Problema: produtor chato.
Solução: trabalhar sem um produtor. Ou seria mais outro problema...

É uma loucura só escolher essa vida. Mas eu não saberia mais escolher outra coisa na vida. Problema ou solução?
Beijos!

Um comentário: