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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Jack, gremista ou colorado?



Queridos e queridas,
Estou cansada, as olheiras encostando na ponta dos pés. Pode ser o efeito do jogo de ontem. Deu a lógica. Mas tem lógica no futebol? Ontem, eu estava indo para casa em uma lotação. Ficamos parados por no mínimo meia hora, por causa de um arrastão vermelho e branco que invadia a Padre Cacique, em frente ao estádio Beira-Rio. Quando vi, estava passando ao meu lado o ônibus com o time do Internacional. Eu via um a um pela janelinha, e ouvia os cantos, gritos e urros dos torcedores, eles realmente acreditavam na falta de lógica, na realização do sonho. Fomos acordados do sonho rapidinho, um, dois gols. Mesmo estando "em casa", com um estádio lotado por verdadeiros torcedores, nacionalistas, fanáticos, fervorosos, ou simplesmente, colorados. Em vão. O sonho de um não é o mesmo de outro. Dos corintianos, por exemplo. De ontem para hoje o sonho colorado transformou-se drasticamente: desovar os estoques de fogos de artifícios para comemorar a derrocada de seu arquiinimigo, dos azuizinhos. Certamente, o sonho dos azuizinhos ontem concretizou-se. E agora, o sonho colorado pós-derrota está se confirmando. Os azuizinhos também foram acordados de seu sonho, com um, dois gols. Que sina! Ambos rivalizam, ambos sonham, ambos ganham, ambos perdem.
Assim no futebol, assim na vida.
Pessoas que não sonham enlouquecem. Pessoas loucas são sonhadoras. Pessoas que não enlouquecem e que não sonham, também não vivem. Vivem, mas não viiiiiiiveeeeem. Se alguém está entendendo o que estou tentando dizer, é que são os sonhos, mesmo os irrealizados ou os irrealizáveis, que insuflam as pessoas a serem otimistas, a criarem projetos, a inovar, a mudar, a romper barreiras, defesas, a viver, enfim.

Conheci um "cara" no cinema que para mim simboliza o ser humano no século XXI no mundinho pré-capitalista-apocalíptico. O nome dele é Jack Torrance, casado, um filho pequeno. Ele é escritor, e está desempregado. Aceita fazer um bico como vigia em um hotel. O isolamento de Jack e a compulsão por tentar escrever algo sem ter algo para escrever em sua máquina de datilografar desencadeiam um dos melhores filmes de Stanley Kubrick, com Jack Nicholson, no gênero terror e entre os melhores de todos os gêneros. O Iluminado (1980), baseado no livro de Stephen King, The Shinning, reúne a magnífica interpretação de Jack Nicholson, o perfeccionismo de Kubrick, que chegou a rodar uma centena de vezes uma cena com a atriz Shelly Duvall, e movimentos de câmera originalíssimos, quando se usou pela primeira vez a steadycam, invenção de Sam Raimi.
O que o escritor-Jack-ator-Jack tem a ver com o ser humano-século-21? A pasmaceira. "All Work and no Play makes Jack a dull boy". No mundo do trabalho, quando há cada vez mais concorrência e menos oportunidades, os homens correm mais, se estressam mais, bebem, fumam, se matam. Só conseguem sonhar sob medicação, ou quando dormem.
No mundo do dinheiro pelo dinheiro e da falta de sonhos, fica o registro da grande obra literária de Jack Torrance, aquele livro que ele escrevia com tanta vontade em sua máquina de escrever: MUITO TRABALHO E POUCA DIVERSÃO FAZEM DE JACK UM BOBÃO.
Seria Jack gremista ou colorado?
Sonhem!

Um comentário:

  1. Gostei muito deste teu olhar sobre o Iluminado. É franco, lógico, pertinente
    e sobretudo leve. Mas não leve de modo pejorativo. L e v e e eficaz.
    Resolvi te contar sobre o meu olhar por que considero o filme uma obra prima
    e gosto muito dele, com aquela boca aberta de quem, por faltas ou
    superficialidades se encanta com histórinhas fechadas.
    Meu olhar é um olhar espiritualista. Portanto parcial.
    Quando recomandava o filme sempre dizia: Se queres entender como se dá o
    processo de obsessão, vê O Iluminado!
    O personagem do Jack é um bobão mesmo, ocioso, principalmente na questão mental. Um ser humano que não se define bem na vida ou fora dela. Toca um barco vazio, ou melhor, arrasta.
    Acho fantástico como vai se metamorfoseando com o hotel, com os humores do hotel. É um rádio que vai saindo de sintonia e entra na faixa da láscivia, do vício. Passa a viver dos humores a que está sintonizado, na faixa vibratória
    mais baixa.
    Acho muito interessante quando no meio do horror a mulher dele sente medo, baixa a guarda e entra na sintonia deletéria do marido, passando a ver personagens do mundo dual do Jack.
    A vida dual dele, tambem vai nos sendo servida aos poucos e de forma que no
    fim ele já está totalmente em seu mundo paralelo. Sugado lentamente.
    O passeio da camera sobre os retratos das festas do hotel é fantástico e
    achar o Jack neles, parece horripilante.
    Ele foi atraido pelos apetites do passado, engolfado pela obsessão por suas
    fragilidades imensas e sucumbe
    no mesmo trecho da melodia, por assim dizer.
    Kubrick ma ra vi lho so! Magistral!

    Bom, assim eu vi.
    Beijos Valéria

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