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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Melhor do que o amor

Queridos e queridas,

A chamada do filme avisa: Para mudar, é preciso dar o primeiro passo. Mas, mudar para que? Por quê? Para onde? Não seria melhor ficar parado? Assim, não se corre o risco de errar, cair, fraturar-se na vida. Mas daí a vida passa, passa, passa, ah, e como passa rápido.

O Kledir respondeu em uma dessas entrevistas do tipo "perfil", que tudo o que ele não quer é viver atrasado. Viver atrasado. Que declaração fenomenal. Se fosse eu, terminava ali a entrevista. Falou e disse.

Quando se lê uma linha, uma linha apenas, escrita por Martha Medeiros, já se percebe que na mais simples palavra, no mais tímido ponto ou vírgula, há um tema intenso, profundo, visceral. Martha Medeiros tem a dádiva de saber escrever, de transpirar nas letras os sentimentos humanos mais caros e profundos. Do diálogo mais pretensamente banal, da frase mais hipoteticamente desinteressada, às vezes é só uma palavra, "Repica!", e provém, com certeza, um turbilhão de emoções, de indagações sobre como nos vemos, como vemos os outros, como os outros nos vêem, e como a vida passa, e passa, e passa, enquanto fazemos coisas banais e coisas que tais.
Momentos. Casamos, cortamos o cabelo, temos filhos, dirigimos um carro, vamos trabalhar, nos masturbamos, olhamos um vestido na vitrine, descobrimos que fomos traídos, jantamos, dormimos, acordamos olhando para outra pessoa, traímos, vamos na sauna, nos separamos, repicamos o cabelo, novo corte é preciso, contamos tudo para nossos melhores amigos, e assim vamos tentando dar o primeiro passo, para mudar, ou pelo menos, mudamos, para tentar dar o primeiro passo. Como um bebê que engatinha. Como uma muleta que nos ajuda. Como uma bengala que não nos deixa cair. Como um analista, um divã, um outro que não nos julga, mas nos permite ser, conhecer, revolver a vida para resolver a vida.

Das linhas escritas por Martha Medeiros nasceu o livro Divã, que ganhou os palcos do teatro, que ganhou vida na interpretação da atriz que eu adoro, Lilia Cabral, que como Mercedes faz um strip tease de sua vida, do casamento à separação, da separação à busca do autoconhecimento. A peça transformou-se em filme (2009), sob a direção de José Alvarenga Jr., que consegue mostrar toda a carga dramática e toda a veia cômica na trajetória de passos e tombos de uma mulher de 40 anos que decide não viver atrasada.
Mercedes sofre, Mercedes me faz lembrar do personagem Lester Burham, interpretado por Kevin Spacey em Beleza Americana. Fuma maconha, tem um caso com um homem lindo e galinha, depois tem uma experiência com um franguinho lindo, sem nunca ter deixado de amar seu marido, e depois ex-marido. O amor não acabou, mas o casamento sim. O vestido Armani mudou de armário e de dona. Então, Mercedes busca nos jogos de sedução fugir de sua própria solidão. O que, óbvio, é impossível. Quando ela, ao olhar para o terapeuta, encontra a si mesma, declara: acabou. E o que acabou, foi melhor do que o amor.

Eu teria acabado o filme ali. E deixado a sala chorando. Mercedes e sua amiga Monica são fortes, são frágeis, são mulheres. Querem, cada uma de seu jeito, ser felizes. Parece que isso é querer pedir demais. Só tem um jeito: dar o primeiro passo.
Para Mercedes, Monica e Martha, mulheres de coragem.
Bom fim de semana!

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