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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Os Roses e a rosa

Queridos e queridas,

Caminhava eu hoje pela Rua da Praia, onde não tem praia, mas tem uma praça linda e bucólica, a praça da Alfândega. Chovia, fraquinho. Fim do dia, fim da semana chegando. Mais frio, mais chuva, mas um domingo diferente, domingo do dia dos pais.

Há nove anos que meus domingos mudaram radicalmente. Meu pai fazia churrasco todos os domingos, com chuva ou sem chuva, com frio ou sem frio. Às vezes, aliás, muitas vezes, eu chegava na casa de meus pais, meus filhos eram pequenos, para o almoço em família. Meu pai estava lá, naquela churrasqueira provisória e improvisada, com uma espécie de capô de carro antigo a fazer de conta que era o telhado. Ele se protegia da chuva, e o churrasco, parece que ficava melhor ainda. A churrasqueira improvisada e provisória ficou, definitivamente. Ele, que deveria ter ficado definitivamente, nos deixou, há nove anos. Assim. Um dia amanhece, um telefonema do hospital, e pronto. Nunca mais nos veremos novamente.

Continuo a gostar de churrascos, e de domingos em família. Mas os dias dos pais me entristecem. Hoje fui em uma loja, comprar um presente para o pai de meus filhos, que também faz aniversário em breve. Talvez a gente almoce junto, ou no domingo dos pais, ou no dia do aniversário dele, assim como há poucos dias, quando jantamos juntos para comemorar em família a formatura de nosso filho mais velho. Interessantes estas famílias modernas... desfazem-se os laços, desatam-se os nós, mas fica o carinho, o respeito, a lembrança das coisas boas. É, eu diria, um tipo de amor. Altruísta, bondoso, generoso. O amor pelo tempo passado, pelo tempo perdido, pelo tempo esgotado. O amor a que Proust se referia, em sua indelével busca... "Para quem ama, não será a ausência a mais certa, a mais eficaz, a mais intensa, a mais indestrutível, a mais fiel das presenças?"

As famílias de hoje são o cruzamento de famílias novas, de famílias miscigenadas, transmutadas, reatadas, desatadas. São os filhos dos pais sep, sep, sep (traduzindo, separados), como meu filho mais novo se referiu, uma vez, ao voltar da escola sem saber por que em uma ficha havia a anotação: fulano, pais sep. beltrano, pais sep, e assim por diante... Naquela época em que ele me perguntou, eu ri muito, achei divertido, expliquei para ele o que era, e emendei: Nós não, nós somos cas. Mas de cas para sep é jogo rápido. Parece que será eterno, que é tudo o que a gente queria na vida. Como os churrascos de domingo, com chuva ou sem chuva, com frio ou sem frio. Daí, puff. Um novo dia, um telefonema, uma palavra, um gesto. Ou a falta de tudo isso. It's over. Fade out.

Assim foi na inteligente comédia A Guerra dos Roses (1989, direção de Danny De Vitto). Michael Douglas e Kathlenn Turner são Olivier e Barbara Rose. Após 18 anos de casamento, querem (querem?) o divórcio, e querem (querem?) a mansão, a louça, a prata, o rabo do gato, o tapete do banheiro, a capa do cd, o dvd arranhado... querem se odiar, querem se magoar, querem extravasar todas as mágoas, as frustrações, os fracassos, as culpas. Querem exorcizar, querem sublimar, querem se amar. E não conseguem mais. Do amor à guerra, puff. Bush pai e Bush filho que o digam. Perto deles, os Roses não sabem de nada...

Ouvia em meu vagaroso caminhar pela rua da praia sem praia, uma moça comentando pelo celular que havia comprado o presente para seu pai. Um par de sapatos. Ela estava feliz. Eu fiquei feliz por ela. Lembrei das Lojas Ughini, do sapato Vulcabrás preto. Nunca mais tive que voltar lá.
Agora, se eu pudesse, sairia no meio deste temporal que deságua nesta madrugada toda a minha tristeza, em lembrar da ausência de meu pai. Queria sair agora e comprar uma rosa.
Meu carinho a todos os meus amigos, que são pais.

Um comentário:

  1. Maninha!!!!!

    Que texto lindo!!! Amei, amei, amei!!!!! Mas confesso que bateu uma tristeza, por lembrar que já faz tanto tempo assim que a gnt não comemora esse dia com nosso pai, em um churrasco dominical...

    É... O tempo passa... E às vzs é meio doloroso lembrar que a saudade é cada vez maior...

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