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domingo, 13 de setembro de 2009

A difícil arte de ser simples

Queridos e queridas,

Ontem escrevi sobre um filme no qual atua Edward Burns. E fiquei com vontade de escrever mais sobre ele. No filme 15 minutos, por exemplo, Burns atua ao lado do grande Robert de Niro, que nem fica o tempo todo no filme, ele é assassinado acho que lá pela metade da história. Então, o jovem, charmoso e tímido bombeiro (Burns) tem a (difícil) missão de segurar a história até o fim, investigar quem são os assassinos, e fazer justiça em um sistema de corrupção que envolve a polícia e a imprensa. E ele está muito bem no papel. Assim como no Resgate do Soldado Ryan, e em vários outros. Mas o que muitos ainda não dão o devido valor é ao excelente trabalho que Edward Burns faz atrás das câmeras, como roteirista, produtor e diretor.

Começando pelo seu filme de estréia, em 1995, Os Irmãos McMullen. Burns apresenta a história de um família de irlandeses católicos, são três irmãos que vivem crises distintas, e que os aproxima. Temas como amor, religião, valores, são cruzados nestas histórias paralelas: um está vivendo um casamento falido, o outro tem aversão a relacionamentos sérios, e o terceiro está dividido entre o amor por uma mulher de uma etnia e religião diferente da sua. Como roteirista, Burns escreveu uma história comovente, com diálogos nos quais sua vocação para um humor fino, no melhor estilo woodyalleano, está presente. Mas sua direção lhe dá uma identidade própria, bem como ele é: simples e profundo nesta simplicidade. Há uma, eu diria, uma elegância na forma de conduzir as cenas, das mais engraçadas às mais dramáticas. A gente se sente na história. Simples assim. O que não é nada fácil de fazer.
E Burns faz.

Como no outro filme que ele dirigiu, produziu e roteirizou, além de atuar, Nosso tipo de mulher. Além de conseguir no elenco nomes já famosos, como de Cameron Diaz e Jennifer Aniston, este filme consegue o que propõe: uma história bonita sobre o amor. Um homem com uma sensibilidade e sarcasmo para os pontos de vista masculino e feminino. Várias versões do mesmo fato. Várias perguntas em busca de uma mesma resposta: amar e ser feliz.
E Burns consegue, de novo.

No ano de 1998, Edward Burns escreveu seu primeiro drama, o qual dirigiu e foi um dos protagonistas, juntamente com Jon Bon Jovi e Lauren Holly: Uma Chance para Ser Feliz. Prefiro o título no original, No Looking Back. Essa é a essência do filme, mais centrado ainda sob o ponto de vista feminino em busca de ser feliz. Nesta história, que em princípio não tem nada demais, uma mulher mora em uma pequena cidade, vive com um rapaz de quem gosta, mas não o suficiente para casar. Falta algo mais, que ela não sabe bem o que é. Talvez seja a ausência do homem que a amou, e a abandonou há muito tempo. Quando ele reaparece, ela percebe que o passado ainda não passou, o presente é uma dúvida e o futuro é a obrigação de fazer uma escolha definitiva. Ficar com alguém que a ama, ficar com alguém que agora retorna e por quem ainda sente algo? Ficar só? Ou ...?

O que Burns mostra nesse filme é que, mais importante do que escolher com qual deles ficar, é ela saber que precisa ficar bem consigo mesma. Para ser feliz, tem que estar de bem consigo. Lembram da paz interior a qual me referi no post anterior? Pois é isso. Errando e acertando, escolhendo caminhos, pensando e agindo. Vamos fazendo nossa vida, traçando nosso futuro. Por isso, No Looking Back é um nome lindo, para um filme em que Burns está mais uma vez conduzindo e atuando com um talento que lhe é peculiar: ele é simples, original, e fala de coisas que dizem respeito a todos. (Não vou me referir aqui também ao olhar, à voz dele, é puro charme, mas daí já é tietagem...)

Burns recebeu críticas após fazer esse filme porque todos esperam dele algo que supere seu filme de estréia. Mas percebam a ironia da crítica: Os Irmãos McMullen foi filmado com um elenco de pessoas amigas de Burns, com um orçamento baixo, teve como principal locação a casa de seus pais, e o apoio técnico veio de colegas seus da produção do programa Entertainment Tonight, onde Burns trabalhava. Vários distribuidores torceram o nariz para o filme. E aí, no Sundance Film Festival, o maior festival de cinema independente norte-americano, o flme recebeu o Prêmio do Grande Júri. Estourou. Na verdade, o que o festival fez foi justiça a um grande e jovem cineasta que prima por boas histórias, em vez de megaproduções com olhos nos cifrões. Grande cara, esse Edward Burns.
Boa semana!

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