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terça-feira, 8 de setembro de 2009

Hypatia, uma mulher de verdade

Queridos e queridas,


O diretor chileno Alejandro Amenabar realizou filmes marcantes, como Mar Adentro e Os Outros. Ele deixa novamente a sua marca, desta vez em um filme exibido com excelente repercussão no Festival de Cannes: Ágora.
No Egito Antigo, o filme apresenta a história da filósofa e astróloga Hypatia, interpretada com o talento de Rachel Weisz. Hypatia se destaca no mundo das ciências, pelos seus conhecimentos em astronomia, matemática e filosofia. Trabalhou na biblioteca de Alexandria, escreveu vários tratados, e, com apenas 30 anos, ocupou a cadeira do filósofo Plotino na Academia de Atenas.
Mas Hypatia, além de ser mulher, tinha idéias próprias, as quais argumentava e defendia com veemência: a liberdade de religião e de pensamento. Dizia, por exemplo, que o universo era regido por leis matemáticas.

Hypatia, mulher, herege, foi esfolada pelos fundamentalistas cristãos, sob a influência do bispo Cirilo de Alexandria. Hypatia foi assassinada e queimada. Cirilo, foi canonizado.

Ágora trata de dois temas igualmente importantes e atuais: o fanatismo religioso e a violência contra a mulher. Vários outros filmes, sejam documentários ou de ficção, abordam essas questões. O que Ágora tem de diferente? Reconstitui uma personagem até então à margem na própria história da filosofia e da ciência. A verdade é que há historicamente um machismo cordial, assim como há um racismo cordial, em que mulheres não são quase vistas, citadas, conhecidas e muito menos reconhecidas.
Qual é o lugar da mulher?
Na filosofia, na astronomia, na matemática? Na vida?

E quando uma mulher, além de aparecer, "ousar" pensar, argumentar, como as idéias de vanguarda de Hypatia, há um preço a pagar por essa ousadia. No caso dela, custou a própria vida e a desonra da difamação, como se fosse uma herege. Pelo fato de ter nascido mulher.
Será que evoluímos muito de lá para cá?

A aprovação da Lei Maria da Penha mostra que há avanços na legislação e na criação de algumas redes de proteção, como respostas aos crimes hediondos cometidos historicamente contra as mulheres. As mulheres eram e são violentadas, sofreram e sofrem maus tratos, foram e são usadas como "laranjas" em tráfico de drogas, e várias outras situações de humilhações. Por outro lado, as mulheres passaram a ser cultuadas pelo seu corpo, pela jovialidade da pele e da idade. A chamada mulher-objeto passou a ser tratada como "mulher" no sentido de continuar sendo uma coisa, só que agora como um objeto de consumo e de desejo, como uma propriedade masculina, a quem se delega certos direitos, a quem se atribui certas capacidades. Uma tutela que se esconde sob uma pretensa emancipação. Que de fato ainda está a ocorrer, cada vez que uma mulher se liberta dessa coisificação estética, mercadológica, social.

Os ventos da modernidade e as revoluções comportamentais, nas quais Maio de 68 é uma referência fundamental, trouxeram mudanças com uma maior liberdade de expressão, e liberdade sexual. Mas no mundo capitalista pré-apocalíptico, até a liberdade e o sexo podem ser cooptados como formas de consumo. Infelizmente, para gol do capital, muitas mulheres se submetem a esses novos padrões do ser belo, do esteticamente correto, seja pela bulimia, seja pela anorexia. Ser mulher é ser top model, é ser jovem, é ser plasticamente bela. Não ser uma mulher de verdade para ser uma mulher desejada. Triste circo, esse.

O que é ser mulher de verdade? Ora, ser mulher de verdade é ser como é, é ser o que é. O problema é que há toda uma carga de preconceitos muito arraigados no imaginário popular: mulher não sabe dirigir direito, mulher é sensível demais e por isso não pode assumir certas funções, mulher engravida e por isso deve ser preterida em uma seleção para emprego... e atriz que está passada vai para a Casa dos Artistas... e coisas que tais. Mulher que entende de filosofia, astronomia e astrologia, então... e com o nome de Hypatia...
Fiquem bem!

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