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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

domingo, 27 de setembro de 2009

Quem faz os filmes?

Queridos e queridas,

Eu falei ontem em chuva torrencial. Quem não é daqui de Porto Alegre, não faz idéia do quanto aqui choveu neste fim de semana. Há poucos instantes, a chuva parou. E não voltou. Deve ter algo errado. Porque este domingo foi avassaladoramente molhado, úmido, chuvoso. Fiquei ilhada dentro de casa, imaginando como seria esta situação durante uma semana, um mês, o ano inteiro assim. Chovendo sem parar. Pensei em começar a escrever uma história assim. Uma mulher que não sabe nadar fica presa em sua própria casa, devido a uma inundação.

Vislumbro essa história em um livro. Um conto, por exemplo. Vislumbro também esse argumento como origem de um filme. Um curta-metragem. Consigo visualizar todos os elementos. A protagonista - mulher que não sabe nadar, as locações, os objetos de cena, as sequências com a chuva reinante na história inteira. A questão que aqui se impõe é uma frase do célebre Stanley Kubrick: "Livro é livro, filme é filme". Afinal, a chuva no livro pode ser uma metáfora. Não é uma chuva real. É uma chuva de problemas, de dúvidas, de interrogações, de dilemas, que geram uma inundação interior na personagem, que não sabe nadar, ou seja, que não sabe como resolver essa situação. No livro, o escritor pode usar de todos os artifícios literários para explorar essas nuances, as subjetividades e as entrelinhas. No filme, a linguagem é outra. Será possível dar o mesmo tratamento que no livro? E é necessário e desejável que seja assim?

A liberdade de criação na narrativa literária e na narrativa fílmica é um dos assuntos que mais me fascina quando falo sobre cinema e literatura. Para mim, que escrevo, são almas gêmeas, caras metades. Cada qual, porém, com sua identidade e limitações próprias. No livro, tudo é possível. No cinema, não. A imaginação, a criatividade que o escritor coloca no texto, não pode ser sempre explícita em um roteiro cinematográfico. E nem deve ser. O trabalho autoral transforma-se em um trabalho de equipe, sob as vistas de uma direção que apontará os rumos da obra. Adaptação, é verdade, mas que poderá ser mais ou menos fiel ao original. São outras cabeças pensantes sobre um pensamento original. Alguns exemplos:

Scott Fitzgerald escreveu o conto O Curioso Caso de Benjamin Button, e o romance O grande Gatsby, ambos levados às telas do cinema. Henry James, um dos maiores nomes da literatura americana, escreveu os romances A volta do parafuso, que resultou no filme Os inocentes, e As asas da pomba, que originou o filme As asas do amor. Martin Scorsese dirigiu em 1993 o filme A idade da inocência, a partir da obra de autoria de Edith Warthon. Stanley Kubrick adorava a aproximação e a cumplicidade entre a literatura e o cinema. Exemplo dessa relação: 2001 - Uma odisséia no espaço, cujo argumento criado por ele e pelo escritordArthur Clarke originaram o conto O sentinela. Já o escritor Ernest Hemingway é o maior exemplo de um autor cuja obra já nasceu para ser filmada: O sol tabém se levanta, e Por quem os sinos dobram são exemplos disso.

Como afirmou o genial escritor Gore Vidal, autor de 24 roteiros de filmes, como Ben Hur: o roteirista é o verdadeiro gênio insubstituível por trás de um filme. Para ele, os diretores de cinema tem o apuro técnico, mas quando se trata de adaptações de obras literárias, o roteirista é indispensável para transpor para a telona a essência dos caminhos que uma obra literária mostra ou sugere.
A chuva parou. O que a mulher vai fazer? Mãos à obra. Um novo texto, quiçá um novo filme.
Boa semana!

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