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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

sábado, 5 de setembro de 2009

A morte anunciada

Queridos e queridas,

Para um sábado à noite, que filme escolher? Há vários critérios. Mas eu estou sozinha em casa, o que me dá a vantagem de escolher o filme que eu quero, sem precisar negociar com meus filhos. Escapei - de novo! - de ver Transformers com meu filho Thomas. Eu ia rever Hotel Ruanda. Há vários dias que penso nesse filme. Mas ele é forte demais, toca em uma ferida que não cicatriza nunca. Um genocídio. Vou deixar para outro dia.

Optei por zapear na televisão. Faz tempo que não assisto um filme inteiro na tv. Mas quando vejo um close em Susan Sarandon, páro de zapear. Quando em seguida vejo Sean Penn olhando para ela por trás das grades, vou-me deitar no sofá. O filme está escolhido. O critério, óbvio, não foi por ser um filme menos pesado ou dramático do que Hotel Ruanda, porque Os Últimos Passos de Um Homem também é um filme denso e tenso. Mas nesse filme tem uma música do Eddie Vedder (Long Road). Quem me conhece, sabe que o Eddie Vedder é a minha alma gêmea. A melhor coisa que poderia me acontecer é passar o sábado à noite na companhia do Eddie Vedder.

Bem, voltando ao filme. Os Últimos Passos de Um Homem (1995) tem a direção do igualmente talentoso ator Tim Robbins, marido de Susan Sarandon, que ganhou Oscar de melhor atriz por sua atuação como a freira Helen Prejean, que tenta de todas as formas evitar que o condenado Matthew Poncelet (Sean Penn) seja executado pelo assassinato de dois adolescentes.

O roteiro é de Tim Robbins, baseado em livro de Helen Prejean, cuja história gira em torno do tema da pena de morte. Deve um assassino ser assassinado? Uma morte justifica outra morte? Compete ao Estado, aos governos, aos legisladores, autorizarem execuções mediante a pena de morte? Mesmo quando é legal, é ético? Um acusado é sempre, indubitavelmente, e efetivamente, o responsável pelo crime? Há cem por cento de possibilidade de executar o homem certo? E se for o errado? Como desfazer o erro?

A aplicação da pena de morte é adotada em alguns países, em alguns Estados americanos, por exemplo. Se antigamente os métodos eram notadamente cruéis, o fato de suavizarem as metodologias não diminui nem suaviza o mérito. O objetivo é matar. Uma morte anunciada. Fazer o criminoso sentir na própria pele o mal que causou a outrem. Fazer o culpado pagar pelo que fez a um inocente. Que ele sinta a mesma intensidade que fez a vítima sentir. Que agora ele seja o algoz de si mesmo. Para que não repita, para que não faça mais mal a ninguém.

É irônico e ilógico pensarmos que a pena de morte resolva as tantas causas e as nebulosas motivações que levam alguém a cometer tantos tipos de crimes, como o latrocínio, o estupro, o homicídio. Irônico, porque ainda que legalizada a execução, ela é antiética, antihumana. Em nome da humanização, nos desumanizamos... É cruel, contra o princípio da vida. Ilógico, porque se somos contra o crime, não devemos nos tornar criminosos. Se somos contra tirar a vida de alguém, não devemos tirar a vida de ninguém.

Aos defensores da pena de morte, muitos dos quais possuídos por uma dor infinita de quem já perdeu alguém querido, é mais do que compreensível esse sentimento de raiva, de necessidade de que se faça algo que signifique justiça, e a justificativa de que o cumprimento legal de uma sentença não seria suficiente. E não é, no sentido de trazer de volta alguém que morreu. Mas matar também não traz de volta. E reforça a falsa lógica de uma justiça e de um alento. Na verdade, é no máximo uma vingança. Que não é um bom sentimento.

Quando vemos neste filme o personagem Matthew reconstituir os momentos do crime, junto com seu parceiro, começamos a perceber a situação por todos os lados: das vítimas, dois jovens adolescentes, dos pais das vítimas, e dos criminosos. Houve a crueldade do estupro e do assassinato. Houve o julgamento. Mas há algo além - e isso é o que mais me comove no filme - que é o sentimento que vai crescendo com esse personagem, quase fazendo-o explodir: o arrependimento.

Existem situações na vida que são como um cristal, que quando quebra, não pode mais vir a ser inteiro novamente.

Enquanto isso, governos declaram guerras, fazem invasões, continuam a matar milhões de pessoas no mundo por desvio de dinheiro, falta de assistência à saúde e à educação, de condições sanitárias, de medidas para conter a fome e a miséria. Alguns países, abarrotados de armas, e guardando a bomba atômica. Outros, na iminência de desenvolvê-la. São ações como essas que fortificam a crueldade que é condenar pessoas à morte, o que acontece todos os dias, em várias partes do mundo.

E quem condena esses executores?
Boa noite.

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