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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Suavemente, até o fim

Queridos e queridas,

Patrick Swayze morreu nesta segunda-feira, não sem lutar há quase dois anos contra o câncer de pâncreas. Lutou fazendo o tratamento, e lutou fazendo o que gostava de fazer: filmes. As fotos recentes do ator em nada lembravam o corpo do bailarino que se tornou famoso no filme Dirty Dancing (1987), uma história romântica na qual ele era um instrutor de dança que se envolvia com uma jovem (Jennifer Gray). Cenas memoráveis de danças ao ritmo de músicas que formam uma trilha maravilhosa, como a oscarizada música I've had the time of my life. O ator se consagraria no ano de 1990, como protagonista do filme Ghost- Do outro lado da vida, ao lado de Demi Moore. Uma nova história romântica, desta vez dramática, ao tratar de temas como a morte e a vida após a morte. Swayze foi indicado ao Globo de Ouro como melhor ator por seu trabalho nesses filmes.

Assisti esses dois filmes várias vezes, em momentos diferentes de minha vida. Sempre gostei de ve-los. Dirty Dancing é um daqueles filmes que podem ser vistos na Sessão da Tarde. Amenidades. Assisti-lo hoje poderia parecer ver um filme antigo, datado, levando em conta o figurino, a fotografia, por exemplo. Mas a dança é o que envolve o espectador. O tempo todo. Todas as vezes em que o filme é visto. A dança é mágica, Patrick Swayze é um grande bailarino. Então, Dirty Dancing entra para a lista dos melhores filmes de dança, como Footlose.

Já Ghost me comove, e acredito que a quase todos os que viram esse filme, pela suavidade do envolvimento amoroso. Swayze está lá, não como um galã, mas como um homem, corpo, espírito, que ama uma mulher. A suavidade dos passos de dança de Swayze estão presentes na suavidade de sua interpretação.

Seu primeiro papel de destaque foi em Vidas Sem Rumo (1983), dirigido por Francis Ford Coppola, ao lado de atores como Tom Cruise, Matt Dillon e Rob Lowe. Este filme, cujo título original - belíssimo - é Outsiders, trata da juventude. Os dilemas pelos quais passam os jovens, que tem nessa fase a mais alta potência da vida, mas não tem a mínima noção do que fazer com isso. E acabam se envolvendo em encrencas e situações de risco,
como "ratos de rua", nas palavras de Coppola.

Filho de uma coreógrafa, estudou balé clássico e teatro. Um dos galãs de Hollywood nos anos 80 e 90, que atuou em vários filmes, apesar de ter ficado meio escanteado nos anos 2000, e que ficou vivendo nos últimos dois anos em um inferno, como ele mesmo declarou na primeira entrevista que deu quando soube que estava com câncer.
Ele disse: Estou assustado, estou zangado. Por que eu?

Essa pergunta a gente se faz quando se olha no espelho, diante de alguma situação ruim que nos acontece. Problemas múltiplos: perdas, dores, traumas. Doenças, dívidas, mentiras, traições, sentimentos negativos, proximidade da morte. Ou a sua quase sentença, como no caso dele, que sabia ser o câncer de pâncreas um dos tipos de mais remota recuperação.

Pois Swayze, esquálido, ossudo, desfigurado, cabelos ralos, sem nenhum vestígio de juventude, e de galã com corpo de bailarino, demonstrou mais uma vez a sua suavidade, na forma como viveu o tempo que tinha. Não se escondeu. Não desistiu. Eu imagino Swayze tirando a morte para dançar. Durante quase dois anos, ele a conduziu, levantou-a, deitou-a, rodopiou e puxou-a para bem perto de si. A morte, ofegante, estupefata, lisonjeada e ligeiramente ruborizada com tanta suavidade, dançou, dançou e dançou. Os dois sabiam qual seria o final da dança. E ele, como um dos maiores nomes na arte da dança no cinema, a conduziu, suavemente, até o fim.
Boa noite.

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