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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O melhor dos mundos

Queridos e queridas,

Fala-se na existência do primeiro mundo. Subentende-se que seja o melhor dos mundos, o mais belo, o mais próspero, o mais justo. No outro lado, o terceiro mundo. O pior, o mais pobre, o mais violento, o mais subdesenvolvido. De um lado, os poderosos, os mais importantes. Do outro lado, os coitados, os invisíveis. Se um tsunami ocorrer no Primeiro Mundo, será o fim do mundo. Mas se porventura ele ocorrer no Terceiro Mundo, será uma salvação para o planeta. Salvam-se os que valem, varrem-se os que estorvam. Equilíbrio total...

Entretanto. (Adoro essa palavra, ela sugere que tudo o que foi dito antes dela não valia nada). E não valia mesmo. Entretanto, quem se atreve a impor uma linha imaginária ou real que separa uns dos outros? Que coloca os terno-e-gravata na sala Very Important Person, e os demais um pouco depois do fim do mundo... Quem se outorga o direito de afirmar que esse país ou aquele outro são superiores, são melhores, são exemplares?

Sempre que viajo fico, na véspera, apreensiva. Sei lá porque. Minha filha Chef Rafaela sorri e me diz - é sempre assim, depois tu volta querendo morar no lugar onde foi... Ela tem razão. Entretanto... em Paris não foi assim. Foi uma experiência inesquecível, com certeza. Vinhos de primeiro mundo. Paisagens de primeiro mundo. Os cafés, meu Deus, os cafés. Queria morar neles. Entretanto. Não me senti em casa. E não foi por causa do idioma, e por obviamente estar do outro lado do mapa. É porque as pessoas que lá conheci foram, no máximo, diplomatique. Faltou essa afetividade, essa sensibilidade, esse acolhimento. Isso, sim, é coisa de primeiro mundo. Remonta ao mundo original, uterino. Quando nos sentimos seguros, aquecidos, protegidos pelo instinto maternal, pelo cordão umbilical. Lá, do outro lado do mapa, nós brasileiros somos ainda confundidos com argentinos, Porto Alegre com Buenos Aires, e Pelé ainda é o ídolo mais importante e planetário que nos representa. Um círculo que corre para todos os lados é o que simboliza nossa brasilidade. E a floresta amazônica, com índios pululando por todos os lados, com bananas, muitas bananas. Esse é o Brazil for export, em tese. Ah, e Lula, o maior estadista brasileiro desde sempre... pena que não o conheceram quando ele era o Lula original.

Daí que quando estive em Dourados me dei conta de que o primeiro mundo está onde nós o construimos. Nós desenvolvemos, ou não. Nós nos empoderamos, ou não. Dentro deste país, deste imenso país, há o melhor e o pior dos mundos. Não é fantástico esse paradoxo? Nós colocamos uma linha imaginária e nos contentamos com o estigma de sermos o país do futuro. Já fomos o milagre brasileiro, e parece que não aprendemos nada com isso. O Brasil é carnaval, futebol e também não é só carnaval, só futebol. O Brasil é um road-movie.

Como o maravilhoso filme Cinema, aspirinas e urubus, de Marcelo Gomes. Realizado em 2005, essa pequena obra-prima mostra o ano de 1942, em plena II Grande Guerra. Um alemão viaja pelo Brasil, fugindo das notícias da guerra, onde conhece o morador de um vilarejo, que por sua vez viaja em busca de uma vida melhor, em um lugar mais desenvolvido, como o Rio de Janeiro.

Não por acaso eles se conhecem em uma estrada de chão batido, terra de ninguém. Não por acaso eles começam uma nova viagem, aquela derradeira viagem que significa uma jornada interior, em busca de novos e verdadeiros significados. A aventura maior que existe, descobrir sentidos para viver onde se está, e para onde se vai. Nem sempre o lugar mais industrializado é o melhor para se viver. Nem sempre o retirado fim do mundo é o pior lugar para estar. O estado de espírito, o espírito de luta, estão conosco, ou não, onde estivermos, e para onde formos. Depende de nós, ficamros nos entupindo de aspirinas, anestesiados das agruras da vida, a mercê da ação dos urubus de todos os tipos: especuladores, politiqueiros, bajuladores... ou tocarmos a vida pra frente, pra próxima parada, de carona, a pé, na direção, na contramão... o melhor dos mundos existe. Entretanto... cada um é que o faz. Ou desfaz.
Baci!

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