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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O nariz de Benigni, sem efeitos especiais

Queridos e queridas,

Estava eu novamente com saudades de aparecer aqui. Mas desde que fui a Carazinho, na sexta-feira passada, não tive tempo de me dedicar a este espaço como ele merece: sentada a derramar no teclado os pensamentos e sentimentos que me vierem a tona. É que eu fiquei literalmente derramando os pensamentos e sentimentos lá naquele município que foi tão acolhedor, com as professoras da Escola La Salle que organizaram um congresso internacional impecável, e que apesar de todo o trabalho encontraram tempo para rir, rir muito em uma casa de massas com direito a sofiotti e muitas histórias engraçadas, a começar pela minha mais nova amiga, a professora Eloísa, que vai se casar nesse próximo fim de semana após dez anos de namoro. Com despedida de solteira, festa na igreja e imaginem o galeto com polenta e o festerê depois do yes, I do.

Minha filha tem razão, eu realmente sofro da síndrome de querer não retornar dos lugares para onde vou. A vantagem é que quando eu partir desta para a melhor, certamente não voltarei aqui para assombrar ninguém... Ou, olhando por outro ângulo, sou a existencialista mais otimista que conheço. Aprendi, após levar muitos golpes e estocadas metafóricos, que nos fortalecemos quando aprendemos a lidar com os problemas, em vez de negá-los ou delegá-los. Quando aprendemos a ver um mesmo ponto sob vários ângulos. Quando nos desapegamos de nossos problemas, de nossos conflitos, e nos colocamos no lugar dos outros e aí então percebemos que ninguém é melhor do que ninguém, que nenhum problema é tão maior ou pior do que o de outra pessoa. Que rir ainda é, sim, o melhor remédio.


Daí o fato de eu gostar de comédias, mas as de humor negro. Como A Vida é Bela. Mas como, comédia? É um baita drama! Segunda guerra, alemães nazistas, perseguição aos judeus, o Holocausto, os campos de concentração. Onde está a graça? (afinal, eu não sou nazista!). A graça está, em primeiro lugar, em olhar o nariz e o que sobrou do rosto do protagonista do filme, o italiano Roberto Benigni. E está, em segundo lugar, nas brincadeiras, trejeitos e trapalhadas que seu personagem Guido cria para seu pequeno filho, na Itália dos anos 40, enquanto eles ficam em um campo de concentração. Guido faz de tudo para o filho acreditar que eles estão em um grande jogo, e que tudo o que acontece com e em volta deles são parte do jogo. Por maior que seja o terror, por pior que seja a violência, tudo faz parte do jogo.

Humor negro, eu falei. Assim é a nossa vida, um grande campo de concentração, um grande caldeirão, onde somos jogados ou aprendemos a jogar. O inferno, para Sartre, são os outros, não é o diabo. Então, a grande sabedoria é jogar para driblar os problemas, as quedas, os conflitos, as situações, ou provações, se assim preferirem, que todos, em algum momento da vida, passam. Doença, fossa, dívida, dúvida, transtorno. Amar demais. Amar de menos. Podemos escolher no jogo: somos Guido, o louquinho que foge da realidade, ou podemos ser Guido, o sábio que burla os problemas para, sorrindo, tocar a vida pra frente, pois que ela só começa a acabar quando a gente desiste dela primeiro.

A Vida é Bela, de 1997 e dirigida pelo próprio Benigni, recebeu três Oscars. Comoveu milhões de pessoas. A mim dizem, que filme triste. Se o filme é triste, como pode a vida ser bela?

Quando Benigni, por exemplo, olhou-se bem no espelho e percebeu que seu nariz seria seu maior defeito ou seu maior charme. Quando resolveu rir de si mesmo, antes de fazer os outros rirem. E quando decidiu tirar proveito de algo que poderia faze-lo quebrar todos os espelhos deste planeta.

Quando eu vejo uma mãe que abraça seu filho em uma praça, enquanto o único abraço que essa mãe recebe é do frio que encobre nossa cidade, eu penso, como pode a vida ser bela? Mas daí eu olho bem nos olhos dela, e vejo um brilho no seu olhar. Como o sorriso das minhas novas amigas de Carazinho. Que noite bela! Como a companhia dos amigos que vieram me ver no meu derradeiro aniversário. Que dia belo! Como eu e meu filho Thomas brincando de jogar balão. Sensacional é a vida. Como degustar os pratos elaborados com os temperos do afeto e do carinho de minha filha Chef Rafaela e do meu genrinho Chef Umberto. Não tem preço.

A vida é bela. Comédia dramática, drama, e sem efeitos especiais.
Boa noite!

Um comentário:

  1. Muito tocante e verdadeiro. Verdadeiro demais até doi um pouco.
    Não gosto é do derradeiro aniversário!
    Que maneira de falar, escrever? Protesto veementemente!!!!!!!

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